............................................. Sei de tudo
Sei de tudo o que existe pelo mundo. A forma, o modo, o espírito e os destinos. Sei da vida das almas e aprofundo O mistério dos seres pequeninos.
Sei da ciência do Espaço, sei o fundo Da terra e os grandes mundos submarinos, Sei o Sol, sei o Som e o elo profundo Que há entre os passos humanos e os divinos.
Sei de todas as cousas, a teoria Do Universo e as longínquas perspectivas Que emergem da expressão das cousas vivas.
Sei de tudo e – oh! tristíssima ironia! - Pelo caminho eterno por que vou, Eu, que sei tudo, só não sei quem sou…
Nova seita proclamaram De Esculápio os descendentes; Dão vivas os boticários, Estremecem os doentes. Mas que achado! Os velhos médicos Vêem o passado com mágoa; Estes, de novo sistema, Aquecem água com água. O fogo apagam com fogo, Dão vista aos cegos, cegando, E até pra coroar a obra, Curam da morte... matando.
Recordo: um largo verde e uma igrejinha, um sino, um rio, um pontilhão e um carro de três juntas bovinas, que ia e vinha, rinchando alegre, carregando barro;
havia a escola que era azul e tinha um mestre mau, de assustador pigarro... (Meu Deus! que é isto? Que emoção a minha, quando estas cousas tão singelas narro?)
Seu Alexandre, um bom velhinho rico, que hospedara a Princesa; o tico-tico, que me acordava de manhã, e a serra...
com seu nome de amor Boa Esperança, eis tudo quanto guardo na lembrança da minha pobre e pequenina terra!
Há no meu peito uma porta A bater continuamente; Dentro a esperaça jaz morta E o coração jaz doente. Em toda parte onde eu ando, ouço este ruído infindo: São as tristezas entrando E as alegrias saindo.
José Albano
............................................. História de um Átomo (Eternidade da matéria)
Fui átomo de rocha, fui granito, Fui lava de vulcão, fui flor mimosa, Sutil perfume, nuvem borrascosa Manchando a transparência do infinito.
Vaguei no espaço... errante aerolito Transpus mundos de essência vaporosa. De santos fui artéria vigorosa, O coração formei a ser maldito.
Nasci com a Terra; gaz eu fui com ela, Estive de Princípio na procela, Fui nebulosa, sol, planeta agora.
Há cem mil séculos vivo m’encarnando, Águia n’altura, verme rastejando, Pólen voando pelo espaço a fora.
Rodolfo Teófilo
............................................. Nas onda de uns cabelos...
Soltas, ombros abaixo, os revoltos cabelos, Que te envolvem num longo e veludoso abraço; E, como um rio negro, os seus negros novelos Rolam no vale em flor do teu brando regaço.
E, na louca embriaguez dos meus sentidos, pelos Cinco oceanos do Sonho o meu roteiro faço, A senti-los na mão, beijá-los e mordê-los, Até morrer de amor, sucumbir de cansaço!
E, pousando a cabeça em teu seio, que estua, Sinto um sono ligeiro, um sussurro de brisa, Que me suspende ao céu e pelo céu flutua...
E, num sonho feliz, como num mar profundo, A minha alma desliza, a minha alma desliza, Como as Naus de Colombo, a procura de um Mundo